Missionário Pierre Cazanga

Comecei a congregar em uma igreja que mensalmente realizava um culto de missões. Falava-se dos problemas de outros países, cantavam musicas sobre missões e missionários contavam seus testemunhos sobre o trabalho no campo e respectivas necessidades.

Eu gostava muito dos cultos de missões. Fiquei interessado no assunto. Muitas vezes eu via Deus me direcionando para missões, mas nunca dava a devida atenção. Um dia, eu percebi que Deus estava bem próximo de mim me convidando para missões e eu disse para ele: Senhor, eu não posso ir porque tenho que tomar conta da minha mãe, que está adoentada. Imediatamente o Espírito Santo falou ao meu coração: quem é você para tomar conta da sua mãe? Você não tem nem capacidade para tomar conta de você mesmo, como tomará conta da sua mãe? Você não tem capacidade nem para prover o ar que respira. Eu me calei. Fiquei atordoado e preferi não mais falar sobre o assunto. Eu já havia participado de vários projetos missionários de curta duração junto com a Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. Fui convidado por um casal de missionários chamados Leandro e Milene Barros para ser parceiro de ministério. Senti-me muito honrado em poder participar contribuindo financeiramente com a obra de Deus através do ministério deste casal de missionários.

Algum tempo depois, eu fui convidado para participar do CTVN. Era um Treinamento missionário durante as férias,  intitulado Centro de Treinamento Vida Nova, que aconteceria em Fortaleza. Aceitei o desafio e fui! Foram 48 horas de viagem de onibus, a paisagem era a mesma, várias paradas, pés inchados, dores de cabeça e etc, mas cheguei. Estava muito empolgado porque várias pessoas de outros projetos estavam lá também.

Estávamos alojados no Colégio Doris Jonhson, em José Walter, um bairro de Fortaleza, no estado do Ceará. Era uma manhã de quarta-feira, e após o devocional coletivo, foi exibido o filme chamado A Colheita. É um filme maravilhoso baseada em uma história verdadeira. Ele fala sobre missões de uma forma surpreendente. Muita gente chora quando assiste. É muito impactante. Vou comprar um dvd deste filme para mim, pensei.  Eu já tinha assistido aquele filme. Após a apresentação foi feito um desafio missionário. Perguntaram se alguém estava sentindo o desejo de servir a Deus trabalhando integralmente no ministério. Eu pensei: já estou até com anticorpos. Esse negócio de chamado missionário não é para mim, pensei. Na parte da tarde tínhamos que fazer um estudo sobre a soberania de Deus baseado em 1Cronicas 29.11 e 12: "Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é SENHOR, o reino, e tu te exaltaste sobre todos como chefe. E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e dar força a tudo." (Versão João Ferreira de Almeida, revista e corrigida) Eu acabei me enganando e abri minha bíblia em 2Cronicas 29.11, que diz: "Agora, filhos meus, não sejais negligentes, pois o SENHOR vos tem escolhido para estardes diante dele para o servirdes, e para serdes seus ministros, e para queimardes incenso." (Versão João Ferreira de Almeida, revista e corrigida) Então eu fechei a bíblia e disse: isso é coisa da minha cabeça.

No dia seguinte, eu comentei o fato de ter me enganado com os textos, com o irmão Edson, que também era membro da Assembleia de Deus. Naquele instante, ele sorriu e disse: É irmão, como é que Deus fala, né? Eu respondi: É irmão, eu e a minha língua grande, pode falar. Ele disse: essa foi a palavra que foi pregada ontem a noite no culto que você não foi. Tá bom, respondi sem graça e me afastei dele. Comecei a pensar e orar: não, não, não e não. Isso não. Eu já disse que EU NÃO VOU!!! Tem um monte de crentes desempregados. Mande eles!, eu falava com Deus. Eu já oro, dou o dízimo, dou ofertas, evangelizo, invisto em missionários... Eu não vou! Já está decidido.

Dias depois eu estava em oração e Deus me trouxe um texto muito lindo em Deuteronômio 28. Eu sempre amei Deuteronômio 28 porque fala sobre prosperidade, aquelas coisas de Deus abrir os tesouros dele, de ser cabeça e não cauda, é muito legal. Mas este capítulo além de trazer uma condição para ser abençoado, "se ouvirdes" ele fala também explicando sobre desobediência. E foi justamente o que me chamou a atenção a partir do versículo 47:Porquanto não haverás servido ao SENHOR, teu Deus, com alegria e bondade de coração, pela abundância de tudo, assim servirás aos teus inimigos, que o SENHOR enviará contra ti, com fome, e com sede, e com nudez, e como falta de tudo; e sobre o teu pescoço porá um jugo de ferro, até que te tenha destruído."  (Versão João Ferreira de Almeida, revista e corrigida) - "Uma vez que vocês não serviram com júbilo e alegria ao Senhor, o seu Deus, na época a prosperidade, então, em meio à fome e a sede, em nudez e pobreza extrema, vocês servirão aos inimigos, que o Senhor enviará contra vocês. Ele porá um jogo de ferro sobre o seu pescoço, até que os tenha destruído." (Nova Versão Internacional)

Naquele momento eu me lembrei que o Gil (missionário do Alfa e Omega) tinha me dado um formulário para ser obreiro da Cruzada e que ficou há uns dois anos guardado na minha gaveta. Lembrei também do dia em que estive em um Congresso Estudantil do Alfa e Omega, que aconteceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, onde fui convidado para um "Café da Manhã Especial". Naquele dia a Aida (missionária do Suriname) falou sobre a importância do serviço missionário. Ela contou uma ilustração de um jovem alpinista que morreu congelado próximo do chão porque quando ouviu a voz do Espírito Santo, não cortou a corda e por isso morreu. Em seguida cantamos uma música do grupo Prisma, Deus da Colheita: Deus da colheita, vem me iluminar, servos precisa... aonde tu me guiares, Deus da colheita, Deus da colheita, irei... Foi uma tortura, lembro que chorei muito e o missionário Alberto Malta fez questão de tirar minha foto chorando.

Tá bom, mas... e agora?, perguntei para o Senhor.

Após retornar ao Rio de Janeiro, conversei com algumas pessoas e decidi aceitar (a força) o convite do Senhor. Rs Entreguei o formulário para ser obreiro da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo.

A Simônia, que esteve na minha turma do CTVN foi até a minha casa e se ofereceu para ser minha investidora. Eu disse para ela: como assim, Simônia, você está delirando? - Pierre, eu ví como Deus agiu na sua vida durante todo o mês do CTVN e tenho certeza do seu chamado missionário. Mas já que você ficou chateado, não tem problema, quando você entrar para a missão ligue para mim que eu vou estar investindo financeiramente na sua vida, tá bom? - Então tá, mas você está enganada!, respondi.

Depois de algum tempo eu fiquei em casa orando, jejuando e estudando a bíblia.

Nada acontecia. O tempo passou e nada. Então fui conversar com liderança da igreja sobre o formulário. E ouvi algo muito bom: Pierre, infelizmente o seu formulário não foi preenchido. Não queremos que vc faça nada precipitadamente. Tivemos uma situação difícil com uma pessoa que disse ter chamado missionário, ela não conseguiu os recursos e está dando trabalho até hoje. Fiquei muito contente com aquela notícia. Fiz aquela oração de agradecimento: Senhor, muito obrigado, eu tentei te servir, mas eu não posso passar por cima da minha liderança.

No dia seguinte, fui para o telefone e liguei para um amigo dono de uma empresa. Ele disse - venha aqui que eu vou conversar com você. Fui na empresa e ele disse: neste momento eu estou fechando o Imposto de Renda, na próxima semana você pode vir que eu vou empregar você. Ótimo, respondi todo contente. Retornei para casa todo contente e aproveitei para orar: Senhor... eu me disponibilizei para fazer a tua obra, mas, como o Senhor sabe, eu não vou poder servi-lo agora, quem sabe daqui a uns 5 anos? Eu vou estudar novamente, estou pensando em fazer um MBA, sei lá... Assim eu estava navegando em minha mente. Eu me recordo que estava passando sobre a Av. Brasil quando o meu celular tocou. E eu olhei era de São Paulo. quando atendi era a Ieda, responsavel pela seleção dos novos obreiros da missão. Ela disse: Pierre eu estou te ligando para dizer que o seu formulário foi aprovado! É mesmo, eu disse, uma pena, mas a minha liderança falou que não vai enviar as informações que você precisa. E eu não posso passar por cima da decisão da minha liderança. Não precisa, respondeu ela, eu conversei com sua liderança e toda a informação que eu precisava ela me deu, inclusive boas referências suas. Eu fiquei mudo.

Legal, então tá, respondi sem graça.

Cheguei em casa e comecei o processo da espera. Os dias se passavam e nada acontecia.

Eu comecei a pensar: devo estar ficando maluco. Não tem outra explicação. Estou em casa jejuando, orando, lendo a bíblia... Tenho que pagar o aluguel, o dinheiro não vai cair do céu. Isso não pode ser assim.

Então quando chegou a noite e comecei a gritar: Não é possível! Isso não pode estar acontecendo! EU QUERO UM SINAL!!! EU QUERO UM SINAL!!!

No dia seguinte, eu estava no meu devocional e lí um texto em Mateus 12.39, que diz: "Mas ele lhe respondeu e disse: Uma geração má e adúltera me pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas," 

Eu não estava acreditando que aquela palavra era para mim. Realmente era tudo muito claro. mesmo assim eu tentei fugir mais uma vez.

Quer saber de uma coisa, eu não vou ficar aqui esperando as coisas acontecerem. Fui até o telefone e liguei para o dono de uma empresa que conhecia e falei que estava a disposição para trabalhar, então ele perguntou se eu conhecia e tinha experiência em área financeira e eu confirmei que sim, ele mandou que eu me apresentasse no escritório da empresa no dia seguinte. Acrescentou que eu faria um free-lance e depois ficaria efetivo na empresa. Fui para casa pensando: acabei com a palhaçada! O meu celular tocou. Gil!!!, respondi surpreso. Alô, Pierre, é Madaí (missionária da Cruzada Estudantil). O que vc quer Mada? Eu vou trabalhar amanhã. Que isso! Eu estou ligando para te dizer para vir ao nosso escritório amanhã para dar início ao seu treinamento missionário. Ah, tá, respondi friamente e desliguei o telefone. O que fazer? Que situação! Tudo bem, vamos ver como vai ficar isso.

No dia seguinte, fui para o treinamento. Quando cheguei no escritório da Cruzada, no Rio de Janeiro, o missionário Leandro me recebeu sorrindo e disse: Até que enfim, estive orando por vc dois anos, seu coração duro! E eu respondi: então a culpa é tua, e agora? Agora... eu vou investir em você, respondeu ele. Eu pensei: esse cara é maluco! Agora eu estou entendendo porque certo dia quando eu estava no trabalho, recebi uma ligação e a recepcionista disse: Pierre, é o Leandro, você atende? Eu respondi que sim. Olá Leandro, tudo bem? Tudo bem nada, sai daí porque Deus não te chamou para isso!!! E desligou o telefone na minha cara. Pensei: Esse missionário é maluco!!! Eu estou investindo no ministério dele e é assim que ele fala comigo? Isso é estranho. Foi o que eu pensei naquela época. Agora eu entendo como Deus faz.

Fiz o treinamento de Desenvolvimento de Sócios Ministeriais e comecei a convidar pessoas para fazerem parte da minha equipe missionária.

Então começou uma nova e emocionante aventura, onde se tornou nítido o agir de Deus diretamente em mim e na vida das pessoas de uma forma bem diferente. Liguei para a Simônia e disse que ela tinha razão, que Deus realmente havia me convocado e eu estava ligando para dizer que aceitava a sua oferta mensal. E ela começou a investir financeiramente e logo em seguida, outras pessoas foram dirigidas por Deus para fazerem o mesmo. Foi dado o início ao meu ministério de missões no campus alcançando estudantes universitários com o evangelho de Jesus Cristo.

A história continua.

 
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